“Nada é permanente, salvo a mudança.”
[Heraclito]
A mudança é algo que ocorre quotidianamente no nosso interior, nos outros, com quem nos relacionamentos e com o ambiente que nos rodeia. Por isso, é fundamental entender a mudança como algo permanente.
Desse modo, é fundamental que os líderes estejam perfeitamente aptos a responder aos dois principais desafios da mudança: por um lado, o desafio e a necessidade de adaptar os produtos e serviços das empresas e organizações perante a existência de novas necessidades dos seus clientes, e por outro, o desafio que é colocado ao líder e aos seus colaboradores no sentido de estarem permanentemente preparados com a urgência da mudança.
A diferença entre dois desafios permite a identificação de ferramentas específicas que lhe possam fazer face. Quanto ao primeiro desafio, por maior complexidade e dificuldade que se apresente, este pode facilmente ser resolvido através do estudo, da investigação e da procura de novas respostas, sobretudo com base em soluções e conhecimento acumulado de experiência anteriores. As disciplinas da investigação e desenvolvimento, bem como as atividades do marketing podem dar resposta eficaz a este desafio.
Relativamente à adaptação dos líderes e dos seus colaboradores à própria mudança, esta já não pode basear-se nos esquemas tradicionalmente conhecidos. A adaptação à mudança exige que os líderes mudem a sua atitude. Os líderes necessitam de apostar no seu autodesenvolvimento e no desenvolvimento dos seus colaboradores. Um desenvolvimento que exige percorrer novos caminhos que abram uma nova visão, uma nova capacidade de pensamento e uma nova possibilidade de ação. Uma nova capacidade de pensar e de agir out-of-the-box… caminhos muitas vezes nunca trilhados, os quais abrem novas possibilidades de aprendizagem.
No entanto, esta nova atitude perante a mudança é especialmente difícil para a maioria dos líderes e das suas empresas ou organizações. Esta dificuldade está normalmente relacionada com a inerente complexidade das suas funções, do grau de interligação dos processos e atividades de cada departamento e da especificidade da função e tarefas executadas por cada colaborador. Neste cenário, é ainda de sublinhar que cada empresa ou organização tem a sua própria estrutura organizacional, hierárquica e cultura próprias, as quais apresentam relações de poder que podem ser mais facilitadoras ou mais restritivas.
Tendo em conta estas situações, o líder tem fatores de stress acrescidos na gestão da mudança. Esses fatores de stress podem ser instintivos e reativos, configurando mecanismos automáticos de sobrevivência que mobilizam a sua energia diária para lidar com ameaças reais ou imaginárias. A mudança é normalmente encarada como uma ameaça, a qual exige uma liderança muito atenta e consciente à forma como pode conduzir o processo. Um
processo que implica mexer com as atividades, com as funções e tarefas, ou seja, com o papel de cada colaborador no atingimento dos resultados da empresa ou organização.
Por isso, a falta de líderes com prática efetiva de atenção e de elevada consciência põe em causa a sustentabilidade das empresas ou organizações. Geralmente, essa falha ocorre porque a maioria dos líderes focam-se e apostam no cumprimento de objetivos e na obtenção de resultados de curto prazo, colocando, na maioria das vezes, as suas necessidades pessoais à frente das necessidades das organizações e dos colaboradores que lideram. Nesta situação, este tipo de liderança evidencia problemas de sustentabilidade, evidencia um baixo nível de integridade, de consciência e de inteligência emocional. Chegados a este ponto, se pretendemos construir empresas ou organizações mais sustentáveis, nas quais as pessoas possam encontrar a sua realização profissional e pessoal, necessitamos de líderes que tenham uma visão holística e plena da sua liderança.
É assim, urgente alterar o perfil dos atuais e futuros líderes incorporando a prática da mindfulness para criar uma liderança mindful. Uma liderança mindful é indispensável para minorar os efeitos da desorientação, da falta de compromisso e dos resultados ineficazes que derivam das reações de medo e de frustração sentidas pelos líderes e, consequentemente, pelos seus colaboradores.
Líderes dotados de ferramentas de mindfulness podem estar mais atentos e mais conscientes à sua liderança, permitindo demonstrar mais calma e serenidade, maior capacidade de controlo, de inspiração e de motivação, bem como evidenciar a possibilidade de tomar decisões eficazes, com maior clareza e foco. Um líder mindful estará mais apto a observar e a compreender os seus pensamento e emoções (recursos internos), os colaboradores com quem se relaciona e de quem depende para atingir resultados, bem como o ambiente que o rodeia a si e à sua empresa ou organização. Um líder mindful que perante as tempestades diárias não perde a sua bússola interior e sabe qual o caminho a percorrer.
Uma liderança mindful que permita ao líder focar-se nos seus inesgotáveis recursos internos, ao mesmo tempo que possa cultivar e aumentar a qualidade das relações com os outros. A qualidade das relações interpessoais entre o líder e as pessoas envolvidas nas diversas atividades da empresa ou organização, bem como na relação desta com todos os atores externos (os denominados stakeholders) é uma das chaves para atingir resultados mais eficazes. A acrescer a esta realidade, as estruturas organizacionais das empresas apresentam-se cada vez menos hierárquicas e mais colaborativas. Estruturas com relações mais horizontais entre funções e departamentos, nas quais é ainda maior a necessidade de cuidar e cultivar melhores relações interpessoais entre os vários colaboradores.
Necessitamos de novos líderes mindful, os quais se distingam pela possibilidade de acrescentar novas capacidades e novas competências de liderança, cultivar elevados níveis de consciência e de inteligência emocional. Novos líderes que sejam capazes de fazer a diferença na gestão de si próprios, dos outros e da forma como todos interatuam no sucesso das atividades da empresa ou organização.
Os líderes necessitam assim incorporar novas competências críticas e indispensáveis para um elevado desempenho: a utilização da mindfulness que dote a sua liderança de atenção e consciência plenas.
